29 abril 2008

Carta 2.

Tirei carta de motorista. Meu pai me dava aulas porque ele já foi instrutor, e parente dar aula é um negócio totalmente não-profissional, com direito a ataques de fúria da parte do pai e do filho. Ele reclamava de qualquer coisa, e quando eu fazia certo, não abria a boca. Hoje, depois de ter carta, ainda é assim, e provavelmente nunca vai mudar. Falando pra alguns amigos disso, todos disseram que isso acontece com eles, também. Eu achava que era só comigo (que eu dirigia mal e que por isso ele reclamava), então saber que todo pai reclama me deixou bem mais tranqüilo.
Mas aí vem... a minha mãe. A dos meus amigos é diferente. Elas dirigem mal, eles dirigem melhor. Minha mãe está até com a carta vencida, mas quando eu faço umas coisinhas de gente que ainda está aprendendo a dirigir, ela reclama mais que o meu pai. Por exemplo, quem, quando está começando a dirigir, consegue trocar a marcha e fazer uma curva ao mesmo tempo?! P*rra, precisa de uma coordenação boa, e eu estava vindo com ela do mercado (e foi muita bondade minha levá-la porque eu precisava estudar), fiz isso e ela ficou "aaai esse carro não agüenta muito tempo assim". Pelo menos ela tem algo em comum com as outras mães: é só chegar um pouco mais perto do carro da frente, mas nada que represente perigo, que ela já começa a gemer de medo.
Com tanta "co-pilotagem", achei que nunca fosse gostar de dirigir. Quando eu pegava o carro era mais para treinar, não porque eu estava gostando daquilo. Eu sentia isso e via o comercial do Polo falando "pelo prazer de dirigir". Eu me sentia um estranho.
Eu ainda não tinha pensado, entretanto, que se sempre tinha alguém para criticar, como seria dirigir sem ninguém do lado? Fui buscar minha mãe na escola e foi ótimo dirigir sozinho. Ótimo. Foi só ela entrar no carro pra eu começar a fazer c*gada, sabe-se lá o porquê disso. Pelo menos eu sabia que dirigia bem :-).
Até aí eu não tinha parado pra pensar também como seria dirigir com outra pessoa do lado que não fosse pai e mãe, e eis que fui buscar minha irmã no metrô um belo dia. (Aliás, noite de chuva.) Parei num lugar proibido parar e estacionar e fiquei esperando. Nada dela. Fui fazer um retorno pra parar no mesmo lugar e perdi a p*rra do retorno. Fui indo embora pela Radial Leste ZL adentro até encontrar outro, mas que dava numas quebradas.

Pronto, estava perdido com o carro.

Fui entrando em ruazinha, saindo em ruazinha, voltei uma, saí num lugar que dava pra Radial de novo. Liguei pra casa, falei que estava perdido e que iria demorar. Fui sentido centro sem lembrar de um retorno sequer até que apareceu um do nada. Eu estava meio veloz, entrei com tudo nele e eis que ele saía exatamente na rua que era para ter entrado alguns minutos antes. Cheguei no metrô com expressão de vitória, até buzinadinha dei pra minha irmã. Para melhorar, ela ficava elogiando como eu dirigia, desde "meu irmão tá crescidiiinhooo" até "ohh trocou a marcha bonitinhooo!!!"
Este episódio me deu uma confiança tremenda pra dirigir. Daí pra frente começou a ser prazeroso dirigir (rápido, principalmente). Meu pai passou a ter menos motivos para reclamar, minha mãe fala que eu estou dirigindo melhor. Talvez as críticas contundentes do meu pai tenham sido boas. Elas me fizeram ficar furioso e querer dirigir melhor que taxista com 30 anos de experiência. Eu achava, aliás, que não tinha como dirigir melhor, que você nascia com uma capacidade espacial x e que ela definiria sua direção. Não podia estar mais errado. Experiência vale para tudo, é possível aprender e se superar em tudo. Eu sei que um dia eu vou conseguir trocar marcha e fazer curva ao mesmo tempo, e eu sei que, quando minha mãe renovar a carta dela, vai ser a minha vez de reclamar muuuito de como ela dirige. Logo, mais uma vez, estou movido pela vingança. :-).

20 abril 2008

Estou há quase duas horas escrevendo, apagando, refazendo título, tentando criar uma introdução, e nada rola. Tudo isso pra falar que, ao invés de explodir, aconteceu só uma biriba, e que eu crio metas cujas motivações não são tão óbvias (como dirigir melhor não pra não ter problemas no trânsito, mas pro meu pai parar de inventar um motivo atrás do outro pra me encher o saco, ou querer aprender estatística não pra saber estatística, mas pra passar por cima de um imbecil do meu grupo que se acha o f*dão porque manja mais e fica delegando tarefas e esnobando). Em outras palavras, estou movido pela vingança.