26 dezembro 2009

Tradições de família.

O fim do ano me faz pensar em família. 19 fins de ano eu passei com a família, e neste que quis não passar com ela percebi que não tenho com quem passar. Achei que eu era o único órfão de fim de ano no mundo, mas vi que outras pessoas estão na mesma. (Isso eu não vi de um modo abstrato - foi pelo Twitter, mesmo.) Como se não bastasse o estado ruim no qual fiquei pensando que, fora a família, eu não tenho mais ninguém, a última crônica da Vejinha desse ano é sobre passar o Natal sozinho.
Pensei no que vai ser de mim quando não houver mais família, ou até se isso algum dia vai acontecer, porque minha família é gigante. Depois vi que não é o tamanho dela que conta, mas o quanto as nossas tradições duram. Há anos fazemos a ceia e o almoço de Natal na casa dos mesmos tios. Também tem a casa dos meus avós, que faz o papel de conectora da família ao longo do ano: é por ela que vemos uns aos outros, por onde correm as notícias de parentes distantes (e onde eles reaparecem), o único lugar que algumas partes anti-sociais da família frequentam. O dia em que essas duas tradições acabarem, a família se espalha, o meu fim de ano acaba e eu sou o próximo a escrever sobre como é passar o Natal sozinho comendo uma torta.
O almoço de hoje foi o maior exemplo em anos do poder de reunir a família que essa tradição tem. Apareceu tio e primo que não eram vistos há anos, que inclusive precisaram ser reapresentados a nós para que soubessem quem eram aquelas moças e aqueles garotões que eram pivetes da última vez que eles nos viram, e a família de uma tia que é daquelas que só (e muito mal) frequenta a casa dos meus avós.
Geralmente, nessas ceias, eu fico como um chato reparando nos pequenos constrangimentos que esses reencontros podem provocar. Na hora de rezar, os mais velhos o fazem enquanto os adolescentes seguram a risada naquela roda com todo mundo de mão dada. Na hora de pegar comida naquela mesa coberta por elas, pode aparecer ao seu lado com o mesmo propósito aquela tia com a qual você mal fala, mal cumprimentou quando chegou e com a qual você precisa puxar assunto porque você não pode sair da mesa sem abrir a boca, e toca falar da salada de grão de bico, elogiar a torta de padaria que a prima que não sabe cozinhar levou, etc.
Esse ano, em compensação, eu me diverti, e agora, algumas horas depois, lembro de tudo com saudade. Por ter ido com espírito um pouco melancólico, eu via as cenas de longe: a mesa dos avós na entrada, as mesas dos tios mais à frente, as mesas dos primos mais velhos com filhos pequenos, a mesa dos primos de vinte e poucos anos à beira da piscina e, nela, brincando, aqueles filhos pequenos simbolizando a nova geração da família. A tradição parece ser ameaçada pelo tempo, que apagará a casa dos avós e nos tirará da casa na qual os tios deveriam tomar os lugares da entrada (que também é saída), e nós irmos para longe da piscina. Eu espero que a tradição, ao invés de ceder ao tempo, se adapte ao seu curso inexorável e, principalmente, não deixe ninguém sozinho.