06 dezembro 2008

Posts descritivos: trabalho.

Todo dia, durante o trabalho, eu gravo algumas situações pelas quais eu passo para postá-las no blog. Há duas semanas fazendo isso, porém, muitas delas são esquecidas, então resolvi postar logo e não deixar pra fazer um post do tipo "um mês aqui" (isso vai acontecer daqui a 3 dias).
Até agora eu não consegui avaliar, no geral, se eu gosto do meu trabalho. No primeiro dia foi normal, no segundo eu queria que tudo aquilo explodisse, e assim por diante. O pessoal que foi faxineiro/gari/lixeiro (ou Custodial, o nome oficial) nos anos anteriores disse que era um trabalho muito legal, mas que o treinamento era de querer matar quem falou que era legal. Tudo verdade. Nós aprendemos a limpar banheiro, vômito, sangue, a limpar as lixeiras, e tudo isso é muito nojento. O argumento dos veteranos para o trabalho ser legal é o de que, na verdade, não se faz nada, pois você anda pelo parque, fica conversando com as pessoas, fica com uma vassourinha e uma lixeirinha deixando tudo limpo... Tudo isso desde que o Custodial não trabalhe na Main Street do Magic Kingdom, área na qual eu tive a sorte de cair. É o lugar mais lotado da Disney toda; é a entrada do parque, então é a primeira e última impressão das pessoas; todas as paradas do parque passam ali, então as lixeiras entopem em segundos; o chão vive cheio de "arte" das criancinhas.
O meu primeiro dia foi legal porque não foi tão pesado, quando eu tinha dúvidas os veteranos me orientavam e eu fiz o que chamam de Magical Moment, um momento em que você consegue deixar uma pessoa muito feliz, maravilhada, etc. Nós somos orientados a nos oferecer para bater fotos para as pessoas (porque o que bateria a foto pode aparecer nela, e isso é mágico porque a família toda sai na foto, por exemplo). A primeira vez que eu fiz isso foi mágico não só para a pessoa, mas também para mim, porque era um casal mais velhinho e o cara ficou muito feliz quando eu me ofereci, disse "thank you" várias vezes, apertou minha mão e os dois me desejaram feliz natal. A foto ainda era na frente do castelo da Cinderela, o símbolo máximo da Disney toda, e na hora em que ele estava iluminado, mais bonito ainda.
O dia seguinte, em compensação, foi cão, porque eu fiquei na praça entre o castelo da Cinderela e a Main Street, muito lotada. Meu trabalho era manter as lixeiras vazias. Eu fiquei tão nervoso correndo com lixeira cheia vazia cheia vazia que os outros Custodials perguntavam "Are you OK?" ("Você está bem?") o tempo todo, e eu respondia "No". Nesse dia chegou a me passar pela cabeça uma possível volta adiantada para casa. Quando eu perguntava para eles, naquele dia mesmo, se eles gostavam do trabalho, eles me respondiam "You get used to it" ("Você se acostuma com isso"), isto é, o trabalho é ruim, mesmo. Pra piorar, enquanto eu esvaziava uma lixeira cheia até a boca, uma americana me fala "You don't have a pretty good job, huh?" ("Você não tem um trabalho muito bom, né?").
Os nossos instrumentos de trabalho também deixam nossa vida pior. O conteúdo de todas as lixeiras é levado para o Avac, um ultraaspirador de lixo. Tem vários espalhados pelo parque, cada um em uma sala. A sala tem um cheiro podre, com o qual eu achei que nunca fosse me acostumar. Dentro do Avac, então, o cheiro é muito mais concentrado. A gente vira o lixo lá dentro, torce pra não entupir, e lava a lixeira com um jato d'água. Na primeira vez que eu fui fazer isso, eu não sabia que era um jato, então fiquei com a cara na região acima da lixeira (pra ver se a sujeira saía). A água bateu nas paredes da lixeira, virou uma nuvem e veio na minha cara. Fiquei lá alguns segundos com a mangueira na mão, boca e olhos fechados, processando a meleca que tinha voado na minha cara. Depois de fazer isso, a água é jogada numa peneira, e essa água espirra em tudo. Meu roomate tem um par de tênis igual ao meu, e eu diferencio um do outro pela sujeira (o meu tem espirro de gordura). Um brasileiro falou que, depois de despejar o lixo no Avac, por alguns minutos ele anda pelo parque sem falar nada, porque se ele abrir a boca, vomita.
Vômito: já limpei dois. O primeiro era gigante, tipo almoço e janta. Aqui tem um produto, o Voban, que seca o bicho, aí é so varrer. Pelo menos foi isso que me disseram, porque deixei agir o tempo necessário e, na hora de varrer, embaixo ainda estava tudo melecado. Varri o que deu pra varrer, deixei daquele jeito mesmo, fui embora.
No treinamento, limpar banheiro parecia ser um presente dos managers (chefes) para nós. Limpei banheiro uma vez. Realmente não tem muita coisa pra fazer, só manter tudo limpo. O problema é depois que o parque fecha, que precisa dar uma geral, inclusive nos mictórios e privadas. Como nós usamos luvas, não é tão nojento, tirando a hora de limpar as privadas. Americano não gosta de gastar energia, só de comer. Por isso, nos banheiros tem sensor em tudo, inclusive na descarga, para que eles não apertem um botão sequer. Quando eu fui limpar o assento da privada, a droga da descarga disparou comigo agachado na frente dela limpando, e isso aconteceu várias vezes. As últimas eu já limpava em posição de largada de corrida: disparou pisquei dali. Uma brasileira em treinamento deu muito mais azar: de cara precisou limpar um número dois do CHÃO, e mais recentemente outra teve de limpar uma cabine que, segundo ela, tinha aquilo até na parede, em estado líquido.
Os custodials dos anos anteriores dizem que a interação com os guests é um dos melhores aspectos de ser custodial. Depende. Aqui é moda trocar pins (ou, em bom português, BROCHE). Cada um custa um olho da cara pelo que é. Os custodials devem andar com uma lanyard (um colar que é uma espécie de faixa) no pescoço com pelo menos 12 BROCHES. As pessoas vêm e trocam os BROCHES delas com o custodial. É bonitinho quando vem uma criancinha e fala "May I see your pins?" ("Posso ver seus BROCHES?"). Só que logo depois aparecem os pais da criança. Eles são as criaturas mais interesseiras do parque. Eu não vejo graça nenhuma em andar com um colar de BROCHES, mas tem gente que anda com vários, faz coleção, gasta muito dinheiro com essa idiotice. Como nós não podemos recusar uma troca, os pais acabam trocando no lugar da criança, sempre pelo BROCHE mais caro ou maior que eu tiver, e o filho que se f*da se ele quiser um BROCHEZINHO do Nemo ou da Sininho.
O que os custodials dos anos anteriores tinham na cabeça pra falar que esse trabalho é bom? OK, tem alguns pontos positivos. Esse é o único trabalho no qual anda-se pelo parque todo. Nós somos livres, desde que deixemos tudo limpo, e dependendo do lugar isso é fácil. Algumas vezes precisamos ficar com um Nextel para que o nosso chefe nos localize. Se algum amigo também está com Nextel, dá pra ficar batendo papo, e em português pouca gente entende. Minha área é a pior de todas para trabalhar, mas eu vejo todo dia o Wishes, um show de fogos de artifício que acontece atrás do castelo da Cinderela. É muito bonito e emociona muito, porque tem uma história sincronizada com os fogos. Eu vejo também o da festa especial que as pessoas pagam mais caro para entrar. Além disso tudo, eu gosto muito de andar, e meu trabalho exige que eu ande 6, 8 horas por dia pelas ruas do parque, que são muito bonitas.
A experiência mais intensa pela qual eu passei aqui foi uma união do lado bom de ser custodial com a do lado péssimo de trabalhar onde eu estou. Toda noite tem parada (a SpectroMagic) e nós vamos atrás dela com aspirador de pó e vassouras limpando tudo. Parece que nesse dia tinha gente importante no parque, e a coordenadora da parada queria mostrar que sabia fazer o serviço então fez muita pressão. Tinha chefe pra todo lado, fazendo pressão para que tudo estivesse limpo. Porém, tinha TANTA GENTE no parque que nós não conseguíamos espaço para varrer (e dizem que isso é só o começo). Não foi culpa nossa, mas eu fiquei muito, muito mal. Tivemos um break e, quando já estava acabando e eu estava voltando para a minha posição, começou o Wishes. Uma mulher me parou e perguntou se eu podia achar alguém que quisesse o balão dela. Esse balão custa uns 10 dólares. É de gás hélio, transparente e tem um balão de Mickey dentro. Eu fiquei com o balão, feliz que nem criança, e quis levá-lo comigo para limpar, mas não podia. Eu vi uma menina no colo do pai dela, ele vendo o Wishes e ela olhando para trás, segurando no pescoço dele. Eu cheguei com o balão e falei "It's for you!", e ela "Thank yooou!". Como estava todo mundo vendo o Wishes, ninguém viu a cena. Fui embora e fiquei olhando de longe. Ela ficou muito feliz. Ela mostrava o balão pro pai dela e apontava pra onde eu tinha ido. Depois ela mostrou pra família inteira dela e apontava pra onde eu tinha ido, mas não dava pra me ver por causa da multidão. Uma hora ela me achou e eu dei um tchauzinho pra ela, e ela me deu outro. Aquela pressão toda pra deixar tudo limpo, o "thank you", o tchauzinho, e ainda pra piorar o Wishes acontecendo na minha frente... dá um pouco e vergonha de escrever isso na Internet pra qualquer um ler, mas eu fiquei engolindo choro por um bom tempo. Aquilo fez valer todo o trabalho sujo.
Como os veteranos disseram, eu me acostumei com aquilo. Viro o lixo e não ligo se tem fralda suja, sanduíche meio comido, nem sinto mais o cheiro da sala do Avac. Eu não tenho nojo de mais nada e aprendi a limpar. Profissionalmente falando, esse trabalho não me servirá, mas pessoalmente, até agora, foi o que mais me fez crescer. Eu não recomendo esse trabalho para os próximos cast members, mas recomendo que todo mundo valorize o aparentemente reles faxineiro que nós sempre vemos por aí... e nem olhamos na cara.

27 novembro 2008

Posts descritivos.

Há muito tempo eu queria postar sobre aquiiilo, mas o acesso a computadores tem sido bem difícil e sequer uma caneta eu tinha para escrever um post. Agora eu tenho, então bora.
Quase que eu não vim. Fiz a entrevista no consulado para obter o visto num dia em que tentaram fraudar documentos, então passaram todos os entrevistados do dia num pente fino. Eu creio que isso tenha acontecido para enrolarem tanto para entregar meu passaporte. Mesmo. Eu estava com ele na mão faltando pouco mais de uma hora pra terminar o check-in para o vôo. Peguei carona com pessoas que também estavam correndo atrás de passaporte, na central dos Correios, na casa do cac*te, para o aeroporto. Nem voltei pra casa pra tomar banho, fiz minhas malas pelo telefone, entrei correndo literalmente no aeroporto, fiz check-in, abraço na família, tchau, embarque. O vôo durava 9h30 e eu não sabia porque tem uma diferença de 3 horas entre a região na qual eu estou e o horário de Brasília. "Peguei emprestado" um Dramin com uma mina pra "curtir" o vôo. Fiquei as 9h30 sentado, dormindo ou entrando na vibe dos americanos.
Quando chegamos em Atlanta (de modo turbulento), saí do avião e putz, estava mais frio do que eu já tinha sentido antes. O blazer que eu estava vestindo congelou inteiro por dentro. Pelo menos dentro do aeroporto era aquecido. E que aeroporto. Ele é tão grande que TEM UMA LINHA DE METRÔ DENTRO DELE, tipo, só pra ele. EU PEGUEI METRÔ pra ir de onde eu desembarquei pra onde eu faria conexão. E aquele lugar era tão... norte-americano. Guardinhas negões falando inglês, pessoas passando por mim falando inglês, TVs ligadas em canais em inglês, um time de basquete passou por nós, etc. Aquelas máquinas que no Brasil vendem barra de chocolate (ou que vendem livro, no metrô) vendiam fones de ouvido de 450 dólares e iPods. Enfim, outro mundo.
No avião para Orlando eu não estava drogado, então eu fiquei com mais medo. Na decolagem o avião ia pros lados. Aliás, ele estava cheio de pessoas que eram o estereótipo dos norte-americanos. Pelo menos metade deles estava com um BlackBerry. Um estava lendo um livro chamado "Built To Win". A aeromoça tinha cara de megera norte-americana. Todos eles pareciam o Al Gore ou a Martha Stewart. Infelizmente, nesse vôo foi que eu tive a sacação de que eu estava sozinho num país e que eu ficaria mais de 2 meses nele, e também foi aí que eu me senti a pessoa mais sozinha do mundo, achei que tinha dado um passo maior que a perna e que não ia conseguir. Pior ainda, essa sensação aumentou durante o dia.
O avião pousou com um tranco tão forte que um daqueles lugares acima da cabeça de guardar mala de mão escancarou-se. Fomos recebidos pela Disney e levados para o condomínio, e esse foi um dos momentos de choque cultural. A janela do ônibus parecia uma tela de cinema, não um vidro, porque tudo era MUITO norte-americano. Os carros, as rodovias, as placas em inglês, o rádio do ônibus, as pessoas. Mais tarde, quando fui eu e um roomate pro Wal-Mart, o choque foi maior ainda. O conteúdo das prateleiras é tão diferente, assim como os preços. Pelos corredores vão norte-americanos obesos mórbidos em carrinhos elétricos, muito mais hispânicos do que eu imaginava, e muito mais brasileiros, também, isso sem contar os da Disney. Tem muita, muita tranqueira à venda, e da boa. Eu comprei um pacote gigante de nachos e quase um quilo de molho de tomate com pedaços de outras coisas. Comprei aqui meu primeiro Haagen-Dazs, quase meio litro por 3 dólares. Um creme de barbear que no Brasil é 20 conto paguei US$ 2,50. Comprei outro dia 12 donuts por 4 dólares e dividi a conta com um cara do condomínio. 24 latas de Coca-Cola, 5 dólares. Em compensação, paguei 68 cents numa cebola, mais de um dólar numa alface, 5 dólares num adaptador de tomada, quase 7 dólares num Big Mac. Esse Big mac, em compensação, era num McDonald's open bar de refri, de café, de ketchup, mustard, hot mustard, barbecue e s+s, um molho meio doce. No meu último dia aqui eu vou pro Mc com uma garrafa de 2 litros pra encher de molho barbecue, porque é MUITO gostoso.
Voltando para o primeiro dia, chegamos no condomínio com a chave do nosso quarto na mão. Cheguei no meu quarto e já tinha dois roomates, os dois gente boa, brasileiros e paulistanos. Teve gente que caiu com 5 chineses ou 2 colombianos e outras combinações. Esse intercâmbio cultural é até legal, mas traz inconvenientes tão... inconvenientes que faz perder a graça, como uma mina que mora com chinesas porcas que deixam a cozinha fedendo depois de fazer as comidas tradicionais delas, o cara que caiu com 2 mexicanos que comem no McDonald's e deixam o pacote das coisas lá jogado no chão, etc. Aliás, todas as pessoas que eu conheci até agora e com quem eu fiz amizade são brasileiras. Encontrar brasileiro é tão legal =]! Andando na rua, quando dois brasileiros se ouvem conversando, na hora já puxa assunto um com o outro, e nos parques também. Todo mundo que trabalha na Disney tem uma nametag, um troço que vai no peito com o nosso nome e de onde nós somos, aí os brasileiros já vem superfelizes conversar com a gente.
Voltando pros roomates, o que chegou por último ficou menos de uma semana no quarto, mudou-se, entrou no lugar dele um que é primo de um que já estava aqui. Todos os meus roomates são limpos e organizados, grazadeus, porque a Disney passa uma inspeção agendada e outra aleatória nos quartos e se estiver sujo tem multa. Ontem eu derrubei bolo no carpete e fiquei morto de medo de sujar e nunca mais sair a mancha. O que eu fiz foi espalhar a mancha de modo que ela desaparecesse no carpete, e ficou perfeito!
Esse bolo, inclusive, foi o roomate primo do primeiro que fez de dia de Ação de Graças. By the way, nossa alimentação é um lixo. Meu pai pôs uns 30 Miojos na minha mala e isso me poupou de comer o lixo supremo que todos comem aqui, uma comida congelada chamada Michelinas. Dá desgosto de ver, mas é a coisa mais barata aqui, perto de 1 dólar. Tenho vivido de salada com muito, muito molho, Miojo, pão de fôrma com manteiga "roubada" do avião ou de qualquer lugar que seja "open" de sachê (quando vamos pra esses lugares enchemos o bolso de sachê de sal, açúcar, etc., pra não precisar gastar com isso) e de Centrum genérico (chama Equate). Comprei 300 cápsulas por 8 dólares, e por muitos dias isso foi meu café da manhã.
Falar em café da manhã me lembra dos meus horários insanos de trabalho, mas pra não esgotar o assunto, do trabalho eu falo no próximo post. Eu espero que toda essa narração da viagem seja não só divertido pra quando eu ler no futuro, mas útil pra quem quer ser cast member ou pra quem quer viajar pro exterior.
Hope you enjoy it. I miss everybody from Brazil, every little person.

Sincerely yours,
Arthur!

20 outubro 2008

Num sábado chuvoso, acordei às 5h30 e fui trabalhar, eu e mais dois amigos. Quando saímos do trabalho ainda estava chovendo. Um morava pela região e outro queria ir pra galeria do rock. Fomos descendo a frei caneca a pé embaixo dos nossos guarda-chuvas e continuamos descendo pela augusta. Já perto da república, destino dos dois, a chuva ficou muito forte. Atravessamos a rua e entramos num posto de gasolina. Um deles comprou uma Coca-Cola para dividirmos. Sentamos na porta da loja de conveniência jogando conversa fora, esperando a chuva passar.
Ela não passou; saímos embaixo dela mesmo assim. Os dois foram pro mesmo lado e eu fui pegar ônibus. Estava sem nenhum livro na mala de propósito para fazer nada no caminho até a minha casa. Fiquei olhando a cidade passar pela janela, prestando atenção em tudo e ao mesmo tempo em nada.

Isso foi uma das melhores coisas que eu fiz em anos e, muito honestamente, eu não sei por quê. Tem gente (eu mesmo) que gasta um monte atrás de diversão, prazer, etc., e eu encontrei algo melhor que tudo andando embaixo de chuva e jogando conversa fora num posto de gasolina. Vai entender.

18 setembro 2008

HERE I GO.

Fiquei meses enchendo o saco com isso, agora eu paro: fui selecionado pra ser Cast Member 2008/2009!!!!!! Esse ano liberaram primeiro os reprovados e em stand-by (que ficam esperando um aprovado desistir) e meu nome não estava nessa leva. Tive prova na hora em que liberaram os aprovados no ano passado, fiz que nem my ass, duas horas depois ainda não tinha liberado, assisti à aula de Estatística que nem my ass, bandejei, fui conferir de novo e estava lá basicamente "parabéns, ligaremos em breve, confirme esses dados, logo você se cadastrará no site do consulado". Imaginei ao longo dessas duas semanas de espera que pareceram meses como seria "o" momento, mas não foi nada que eu imaginei. Ao invés de pular, abraçar todo mundo, molhar o teclado do PC, eu li "parabéns" e sosseguei. Essa espera diminuiu minha expectativa de vida, mas vai valer a pena. Tudo que eu fiz foi pensando nessa viagem, e todos os meus planos para daqui até um ano baseiam-se nela. Claro, eu ainda  preciso do visto, mas não deve ser pior do que o que já passou. Todas as economias, o investimento em tirar um passaporte, todos os "não, mas ou eu vou ou eu vou" que eu respondi com aquilo na mão quando me falaram "mas você ainda nem sabe se vai", tudo está recompensado. Não acho que eu esteja suficientemente feliz com isso porque ainda não caiu a ficha do que tudo isso significa, mas reação inesperada: o resultado me deixou tranquilo. Agora eu sou tranquilo. E quem aguentou todos esses meses de paranóia, de mania de perseguição, aos escolhidos a dedo pra me apoiar e aos que não foram e me apoiaram, valeu demais!

07 setembro 2008

Sweet little lies?

A última entrevista da Disney passou e a espera do resultado está me matando aos poucos. Aliás, a cada segundo que passa todos nós morremos um pouco, certo?, mas eu devo estar indo mais rápido. A resposta vem em duas semanas, mas no dia seguinte eu acordei tão ansioso que eu que sou eu não precisei de despertador para acordar. Eu penso nisso 16 horas por dia, mas ainda há 192 por vir...
A entrevistadora com a qual eu passei era muito fria, ao contrário das outras duas. A entrevista foi mais um interrogatório e foi em dupla. Inicialmente eu acreditava que três respostas minhas poderiam me condenar, mas agora acho que uma resposta e o meu modo de agir no geral que me condenam. Fiquei nervoso demais e não resisti a ser irônico na resposta que eu tenho medo de ter dado.
Escolhi a dedo as pessoas para as quais eu falaria do que aconteceu na entrevista porque eu queria ouvir que tinha ido bem. Não que isso seja mentira, como sugere o título do post; eu precisava de otimismo, que nem na época da Fuvest, que era terapêutico ouvir me falarem "você foi bem, relaxa", sem nem saberem como eu tinha ido.
Eu tenho estado inseguro quanto ao resultado e tenho pensado inclusive num plano J. Porém, se teve algo que me motivou em todas as entrevistas que eu tenho feito (o que inclui a que eu fiz na casa do c*cete que, na verdade, é para um superestágio num lugar ótimo) foi minha confiança. Na hora da última eu posso ter dado uma amarelada, mas essa amareladinha não pode ter acabado com tudo, não pode. Eu não posso sequer pensar num plano J, pois não há outra alternativa.
(Meus posts estão me lembrando o Alberto Caeiro, que fala sobre a mesma coisa várias vezes. Todos terminam com "não posso desistir", "eu vou conseguir", etc. etc., seja falando sobre trabalho, seja sobre fazer curva e trocar de marcha ao mesmo tempo. Sem comentários...)

30 agosto 2008

Post light.

Depois de um post "filosófico" com questões existenciais, considero necessário algo mais light. Vamos a alguns eventos intensos ocorridos comigo, afinal este é o principal propósito deste blog egocêntrico.
Segunda-feira tirei o aparelho dos dentes (de cima). Intenso não foi tirar o aparelho, mas lixar os dentes. Eu esperava uma lixa para isso, mas a dentista (não sei se isso é comum) usou um alicate para tal fim. Ela raspava o alicate nos dentes para tirar as colas com as quais os brackets ficam grudados, mas às vezes dava uma pegada e parecia que ela estava extraindo sem anestesia. Fiquei segurando firme nos braços da cadeira da dentista. Foram 15 minutos que fizeram 3 anos valer menos a pena.
Na segunda-feira mesmo, fui de carona pra escola como sempre. O motorista curte costurar no trânsito da estrada, e eu também. Eis que, numa costurada mal planejada, ele quase nos enfiou numa carreta tentando passar entre ela e um Ka. Teve direito a cantada de pneu, Ka se jogando no acostamento e buzinada. Como nosso chefe gay fala, "me vê outra cueca que essa aqui já foi".
Na sexta-feira anterior a tudo isso, fui à bienal do livro com etapenses. Não exatamente a ida foi o fato intenso, mas ter pago quase o dobro em um livro comparado ao preço na Internet por ter caído na vibe de comprar ali mesmo e a experiência relacionada à leitura dele. Este livro é As Intermitências da Morte. Outro eu comprei por causa do tamanho e por estar barato, Memorial de Maria Moura.
[Desde criança eu gosto de livro grande: aos 4 anos eu decidi ler o Aurélio gigantesco que nós temos (não passei da quarta definição de "a"), queria ler Memórias do Cárcere (pegava os três volumes da estante, admirava-os e devolvia), aos 12 li uma novelona (Solstício de Inverno) e um livrão do Umberto Eco (Baudolino, e certamente não peguei nem 10% do que este último queria passar). Em outras palavras, eu tinha um futuro promissor. Entre ser feliz e inteligente, porém, aos 14 anos, fiquei com a primeira opção.]
Na quinta-feira anterior à bienal fui a um workshop na Cidade Universitária. Sozinho, de última hora. Encontrei etapenses lá, claro. Voltei com uma porrada de brindes e planos, um dos quais já deu "feedback". Fui a uma prova de seleção na casa do cac*te e me chamaram pra entrevista, essa segunda. A história da Disney continua, essa quarta tem a última palestra. O que eu gostaria que acontecesse seria ir pro exterior e já voltar com estágio garantido pra poder sair de casa, coisa que eu falo que vou fazer desde os 17 anos. Essa é a parte intensa e é a parte que me motiva há muito tempo, tanto que depois dela eu não sei o que fazer da vida; isso é tudo que eu quero.

09 agosto 2008

O lado escuro da Lua.

Semana passada saí com amigos e vi que não os conhecia. Eu tinha plena consciência disso, só não tinha consciência do outro "eles". Eram pessoas mostrando o que realmente eram, e não o que eu julgava ser. A amizade foi embora durante aqueles momentos ébrios, e voltou fraca com a sobriedade.
Várias pessoas amigas minhas de verdade, pensando melhor, são-me desconhecidas, e isso é recíproco. Será isso amizade de verdade? Sou a favor de guardar algumas coisas para mim mesmo e acho que todos deveriam fazer o mesmo, mas quanto mais eu sei, mais eu confio.
Porém, confiança (acho que) não é amizade, e não gostei do "eles" da semana passada. Depois do efeito daquela substância que faz a verdade sair, voltaram a ser o que eu conhecia. Esse "eles" que eu conheço é só comigo? Não ser comigo o "eles" que eu desconhecia é falta de confiança? Ou esse "eles" eles não são com ninguém?
O pior é que nem precisa ficar "feliz" para aparecer outra pessoa dentro de nós mesmos. Meu pai fala que o problema não são nossos amigos, mas os amigos dos nossos amigos. Uma breve pesquisa orkutiana já prova isso, e ao vivo tem-se a certeza. Sob a influência de outras pessoas, nossos amigos tornam-se imprevisíveis: as piadas internas, os apelidos, as brincadeiras sem-graça, tudo muda. Podemos estar a uma pessoa de distância de um insano ou de alguém que pense isso de nós.
Eu já discuti isso antes com uma mina da faculdade; eu disse que não me achava eu mesmo lá, que eu era eu mesmo no trabalho e com amigos de longa data. Ela disse que essas são máscaras que nós usamos, e não que somos várias pessoas numa só. De fato, certas coisas minhas são minhas em qualquer lugar, enquanto outras são quase conflitantes.
Fazendo um passeio no Ibirapuera com os amigos de longa data encontrei amigos do trabalho. Com a conversa de alguns minutos que tive com os do trabalho ficou claro pros de longa data e para mim que eu não era o mesmo nos dois ambientes. Conclusão: querendo descobrir quem são os outros, não sei mais quem sou eu.

26 julho 2008

Pensamentos condenáveis.

Um garoto de três anos morreu quando a polícia metralhou o carro no qual ele estava, no Rio. Sua mãe, em entrevista comovente, disse que falou para ele abaixar, e ele respondeu: "mas por quê, mamãe?"

Meu primeiro pensamento foi: mas então não mereceu morrer??

Foi a primeiríssima coisa que veio à minha mente, como a continuidade de um pensamento lógico ao imaginar a cena: tiros pra todo lado; se, ao invés de abaixar, quis saber por quê, tem mais é que morrer. Quase uma seleção natural. Isso aconteceu de novo e pior, pois extrapolou o pensamento e eu estava na companhia de duas mães que conversavam sobre isso. Quando eu soltei o "ahh mas então não mereceu morrer? hahaha" obtive como resposta um silêncio sepulcral, ironicamente.
Fiquei com peso na consciência por ter sido natural nas duas vezes, como um senso comum. Pareceu que o meu mais verdadeiro eu é uma pessoa sádica e insensível, até que começasse a parecer para mim que, na verdade, todas as pessoas o são, e que esses pensamentozinhos condenáveis estão por toda parte.
Se isso fosse só comigo, não seria necessário pensar antes de falar. Aliás, o que é pensar antes de falar além de... reprimir algo que o resto do mundo acharia condenável para viver em sociedade?? Se a entrevistadora, após a descrição da mãe, perguntasse "mas você não acha então que foi melhor que ele morresse, afinal ele não vai passar os genes do reflexo lento pra frente?", viveríamos num mundo sem hipocrisia, mas triste. Falar na cara é honesto, mas um eufemismo certamente é melhor por passar a mesma mensagem e ainda ser agradável.
Pensamos coisas condenáveis o tempo todo que surgem de qualquer conversa. Quantas vezes, ao sermos atingidos por tais "idéias", não procuramos com os olhos alguém que nos apóie e, ao encontrar o mesmo olhar no outro, ambas as partes confirmam com um sorriso malicioso... Isto foi o que ocorreu comigo, com a diferença de que na primeira vez não encontrei o tal olhar e na segunda eu falei, no impulso.
Com amigos "apreciadores" de humor negro, passaria batido. Um dos que eu conheço chora de rir ("porque é muita mancada") quando eu conto de uma mãe que recebeu um scrap de um anônimo tirando uma por seu filho de 5 anos ter morrido de câncer. Outro conta e cria piadas sobre a Isabela. Enfim, eu não sou a pior pessoa do mundo (ou é disso que eu estou tentando me convencer). Alguns falam tudo que vem à mente, outros preferem manter a civilidade. Parece para mim de novo que todo mundo é podre.

03 julho 2008

Organização.

Fim de semestre. Provas e trabalhos, caos. Organização de festa. Este último não costuma fazer parte do final de semestre de um universitário, mas fez parte do meu desta vez. Os colegamigos de trabalho do Etapa mais extrovertidos começaram a organizar a tradicional Festa da Firma (firma porque firma é empresa de peão). Depois de um dia de trabalho num sabadão os organizadores se reuniram num boteco para decidir detalhes da festa. O Arthur S. foi de feliz. Pedimos duas cervejas pra quase 10 pessoas para ter direito de usar as mesas do lugar. Saímos de lá mais de uma hora depois, xingados pelo dono. Fui descobrir uns dias depois que tinha virado organizador da festa.
Pãtz. Eu nunca organizara uma festa. Pelo menos fiquei com a melhor parte - a de receber o dinheiro de quem fosse. Ninguém me pagou, talvez pela minha fama de mercenário no setor, que o pessoal deve ter confundido com ladrão.
Não passou nem um mês e deu m*rda. O cara que cederia a casa brigou com outro por causa de um rolo com a data e por outras coisas e mandou tudo pra p*ta que o pariu. Ficamos sem teto até que uma bixete fosse persuadida por outra a ceder a casa dela. Definiram uma data para a festa.
Faltando duas semanas para a dita cuja acontecer, caí na real através de um comentário estúpido de um colegamigo de trabalho que eu estava totalmente "away" de tudo, então me dispus a pesquisar preços. Nunca pesquisei os tais preços, fui direito pro lugar que julguei ser mais barato - um atacado.
Fomos, aliás. Eu, irmã, bixete. Só eu e ela de organizadores. O resto ou tinha aula, ou tinha seminário, ou caiu fora da organização na última hora porque senão ia pegar DP (este último, aliás, saiu do Etapa pra ganhar uma nota preta. Talvez eu também devesse ter caído fora.)
Compramos dando tiro no escuro, isso na véspera da festa. Eu era o único organizador com carta e carro. Levei tudo pra casa, fui correndo pra USP fazer a prova surpresa do professor c*zão da última aula, e de lá (depois de bandejar em 7 minutos) pro Etapa camelar.
Dia seguinte, sábado, trabalhei o dia inteiro. Alguns organizadores também, outros não. Saí do Etapa com um deles pra minha casa pra pegar o carro pra comprar mais coisa pra levar tudo. Mais tiros no escuro comprando, fomos. Chegou lá, precisamos fazer mais compras ainda de última hora, tudo sendo debitado da minha conta. Apareceu uma penca de gente, um monte sem pagar.
Tudo comprado, hora de curtir. Não. Corta tomate, corta cebola, chora, faz vinagrete, acaba vinagrete alguns minutos depois. Fizeram salada de maionese, acabou na hora. Dois quilos de pão, duraram minutos.
Resolvi desapegar. Bebi dois copos de Smirnoff Ice caseira. Depois um pouquinho de batida de morango feita com duas latas de leite condensado cheias de 51. Quando eu dei o último gole, que eu entortei pra trás pra beber a última gota... olhei para o céu. Ele olhou para mim, cheio de estrelas. Em retribuição à olhada, todas elas começaram a girar, girar... fui caindo pra trás, sem acreditar que já tinha ficado bêbado.
Daí pra frente foi só gente falando "Arthur, senta", "Você não tá bem", "Come alguma coisa, você tá vermelho". Parei de beber naquela hora, eu estava de carro e daria carona.
Fomos embora dali a quase duas horas, antes da meia-noite. Eu e mais cinco no Celtoso. Não fui dirigindo porque o pessoal ainda achava que eu não estava bem, sendo que eu tinha conseguido andar em cima da linha do piso da piscina sem cair nela! Pior que eu saí feliz, tinha achado boa a festa. Agora ainda estou esperado gente pagar.
(A idéia deste post era mostrar o lado bom da organização da festa, mas conforme fui escrevendo, na mão mesmo, durante um simulado que não precisa ser fiscalizado (ITA, certo, pedagers?), vi que tinha muito ressentimento guardado e virou o que virou. Quem ajudou, valeuzaço. Quem não ajudou e só reclamou, aqui, ó.)

Closer.

Criei o marcador/tag disney porque isso é importante para mim neste ano, além de ser útil para quem quer entrar neste processo futuramente. No último post sobre o assunto, ainda era só vontade; hoje, as coisas já andaram.
Fui à palestra com um colegamigo de trabalho. Chegamos em cima da hora, por minha causa. A palestra foi em inglês, e eu entendi tudo inacreditavelmente bem!! Dia seguinte, entrevista, em inglês e em dupla. Meu, parece que eu perdi a noção/inibição social falando em inglês! Falei coisas que eu julguei posteriormente serem condenáveis, dei uma atacada no cara sendo entrevistado comigo quando ele falou uma buuullshit... porém, eu fui extremamente honesto e mostrei isso, a entrevistadora disse que meu inglês era muito bom, ela parecia se envolver mais com as minhas respostas que com as da minha dupla...
Saí encanado, de qualquer jeito. O resultado sairia dali a 26 dias, então decidi nem ficar ansioso, já bastava minha pressão ter batido em 14 x 10 no dia da entrevista.
Todo mundo que eu conhecia, sem exceção, me deu apoio. Isso foi muito, muito importante. Quando eu falava sobre isso, direto respondiam "relaxa, você passou", "você foi bem", como se fosse óbvio...!
No dia do resultado, soube que era costume sair à noite. À noite eu estaria trabalhando. Achei que fosse ficar martelando isso durante todo o trabalho, mas foi tão caótico que eu esqueci... até minha mãe me mandar uma SMS perguntando se eu queria que ela visse o resultado. A partir daí, foi terrorismo. Liga perguntando e-mail, passei, liguei, "Calma, nem cheguei no computador ainda!", liga de novo, "Passa seu e-mail de novo que não tá entrando", "Mas não é possível!", conclusão: meu dados foram cadastrados errados. Mandei e-mail pedindo pra consertar e comecei a fazer análise combinatória de sobrenome e e-mail testando tudo que minha letra horrível tivesse dado a entender. Nada funcionou.
Fiquei o dia seguinte no computador, fazendo isso que eu disse + F5 no meu e-mail. Uma hora cansei e fui tirar uma soneca. Acordei com o celular tocando, era minha mãe perguntando se já tinha saído. Eu disse que não, dei F5 enquanto eu falava isso, e TINHA LÁ UM E-MAIL DA STB! Eles diziam que agora dava pra eu entrar. Celular numa mão, digitando com a outra mão, site, nome, e-mail, mouse no OK... Entrei num tempo psicológico que se arrastou. A tela ficou branca por uns 2 dias. Aí apareceu "Parabéns, você foi selecionado..."
C*r****lho meu, o que foi aquilo... falei "passei" no celular, minha mãe comemorou, desliguei. Fiquei tremendo uns 10 minutos, que nem quando eu vi o resultado da FUVEST.
Não era para tanto, convenhamos. Eu passei na primeira fase. No vestibular, quando eu vi que tinha passado para a segunda fase foi legal, mas eu não fiquei no estado em que fiquei nos outros dois casos.
Na página, pedia-se que um e-mail fosse criado com eles para passar novidades sobre a seleção. Ainda tem uma entrevista e uma palestra pela frente. Apesar da encanação pós-entrevista, antes dela eu era o cara mais confiante do mundo. Agora eu estou no mesmo clima. Já que ninguém sabe ao certo o perfil que eles querem, não tem muita alternativa a não ser ter confiança.

20 junho 2008

"- Chorei como uma cabrita desmamada. Não por ele, mas pela decepção, pelo sonho desvanecido. Não há nada tão ruim como sonhar, minha filha.
- Sonho tanto...
- Quem sonha, paga caro. Bom é querer. Comecei tudo de novo (...)."
(update) -- Tieta do Agreste Pastora de Cabras, Jorge Amado

21 maio 2008

Wishes.

Desde o ano passado eu ouvia falar de universitários que iam trabalhar no exterior, mas aquilo soava muito exótico e distante para mim. Porém, me deu na telha no começo desse ano que eu iria atrás disso, pois eu percebi que seria uma ótima chance de resolver vários "problemas" com uma tacada só.
Pela "vibe" do pessoalzinho que eu vejo por aí querendo fazer o mesmo, o mais óbvio motivo para ir é "KonheCE peXXOAxXx novAxXx", "faze MiGuxXxUxXx du MUNDU InTEiRu" e "tRaBAlhaH nAh dISNEY KI Eu Amu!!!!!". Bem, eu realmente quero conhecer gente do mundo inteiro, mas isso não é o motivo para eu querer ir.
Depois vem a experiência que você adquire num trabalho desses. Para quem nunca foi para o exterior, meu caso, vai ser incrível. Quando eu fui tirar meu passaporte, fiquei imaginando como seria desembarcar nos Estados Unidos da América sem conhecer quase ninguém, com um batalhão de guardinhas negões de 2m de altura me olhando, todo mundo na face da Terra falando inglês, depois ainda vou falar inglês o tempo todo, morar com roomates que eu nunca vi antes... mesmo esse não é um dos grandes motivos para eu querer ir, though.
Entrar na cultura americana, sim, é um graaande motivo; foi o primeiro que me empolgou. Quando eu vejo um filme com alguma cena na qual alguém vê TV, eu fico morto de curiosidade de saber como é ver TV naquele lugar. Por exemplo: como vai ser quando eu chegar lá, trocar de canal e vir ABC, CBS, CNN? Eu acho isso demais, demais, mas talvez eu seja o único.
Fora isso, ainda tem o fator "sair na rua". Como será que é ver um outdoor com propaganda de iPod? Ver Wal-Mart pra todo lado? Conhecer fisicamente todas as lojas que eu estudei em marketing? Ter dólares na mão? Não ver um Palio, Gol, na rua? Andar pelas ruas de uma cidade típica norte-americana?
O segundo grande motivo para querer trabalhar nas férias de fora a fora é... o Etapa. Antes da possibilidade de fazer isso, eu não me imaginava um dia chegando pra minha chefona e falando "olha, arranjei estágio, estou saindo". Eu era muito apegado ao pessoal de lá por gostar mais deles que do pessoal da faculdade. Se eu saísse, eu conviveria com os marketers e não mais com os pedagers. Fiquei muito mais próximo dos marketers esse ano (porque ano passado eu estava em uma fase auto-destrutiva) e mais "livre" do Etapa por causa disso. Trabalhar fora seria o grandíssimo fator que me faria seguir em frente, como se o Etapa tivesse ficado pra trás há muito tempo e não houvesse possibilidade de voltar.
O terceiro e último enorme motivo é o mais recente de todos. Há anos eu cobiço ir a um parque de diversões que fica em Ohio. Eu já satisfiz vários sonhos de consumo, mas esse parecia o mais distante de acontecer. Parque de diversões seria um nome infantil para o que ele é: a capital mundial das montanhas-russas! Eu adoro montanha-russa. Como eu já fui em todas por aqui perto, só indo longe pra ir em coisas novas e mais excitantes. Descobri que um cara que trabalhou comigo no Etapa está indo também por exatamente esse motivo, então com um "coastermate" arranjado fica muito mais possível andar nessa montanha-russa, por exemplo.
Duas pessoas que estudam comigo já foram trabalhar fora. Uma voltou doidona, outra voltou normal e com saudades. Outro cara já está com o pacote fechado, mas não para onde eu vou. Nós já combinamos de ir visitar Nova York com a galerinha do mal com a qual faremos amizade. O visto vai um mês além do período de trabalho, então podemos ficar rodando durante esse período por lá, até porque aqui em Brazil vai ser férias e não vai ter muita coisa pra fazer.
Está 0% certo que eu vou. Tem um processo de seleção por trás disso que vai até outubro. Porém, eu não consigo me imaginar na praia no final do ano, como fazemos religiosamente, ano após ano. Eu sempre prometo religiosamente que não estarei na praia no final do ano, ano após ano. Não posso deixar de cumprir desta vez. Tenho muitos motivos para isso, tanto que vou trabalhar esse ano inteiro pra trabalhar!

PS.: pessoal do Etapa, o problema não é com vocês, é com a empresa, mesmo. rs

06 maio 2008

"O horror que temos de nós mesmos"

Finalmente alguém falou disso, e ainda por cima considerando um outro fato muito interessante. "Achadinho" no jornal Destak (aquele que você pega no metrô).

"Muita gente, em especial a imprensa, tem criticado a maneira como parte da população reage ao espetáculo midiático que virou o caso Isabella Nardoni. Haveria histeria e exagero.
De minha parte, creio que a reação é natural. O crime cometido é medonho.
Há, sim, exagero na cobrança de rapidez no chamado 'processo legal'. As pessoas querem os acusados na cadeia, mas as investigações ainda estão em andamento. Mesmo assim, vejo também como compreensível a exigência de que tudo seja mais rápido. Afinal, já estamos acostumados a pensar na nossa Justiça como lenta.
O que mais me impressiona, porém, são as pessoas que resolveram fazer figuração nesse caso, como se tudo fosse mesmo um espetáculo. Falo das pessoas que vão para a porta da delegacia ou do prédio onde estão os acusados.
O que faz alguém, numa cidade complicada como São Paulo, sair de sua casa e ir gritar 'assassino' e jogar pedras contra os acusados e seus parentes? A resposta é aterradora. Essas pessoas, no fundo, estão exorcizando os seus próprios fantasmas. A tese não é minha. É do psicanalista Contardo Calligaris, uma das vozes mais lúcidas do país. Com seu ódio, essas pessoas querem dizer 'nós não somos monstros, nós não matamos crianças'. Só que, como lembra Calligaris, a vontade de afirmar a diferença de modo violento indica que o indivíduo, na verdade, sente-se semelhante àquele que hostiliza. Aquelas pessoas precisam dizer ao mundo que elas são diferentes porque, no fundo, são bem capazes de espancar os seus filhos.
Duvida disso? Veja o crescimento dos índices de agressão a crianças (...). Veja que o principal agressor é a mãe. Noutro dia, informamos que, em sete anos, mais de 300 crianças foram mortas dentro de suas casas na cidade de São Paulo. E isso, como publicamos, é só a ponta do iceberg."

Pena que este artigo estava espremido em um canto do jornal e pareceu cortado no meio. Se falasse mais sobre essa teoria de reprimir o que se é de verdade ficaria muuuito melhor...

02 maio 2008

Fui comprar camisa na Colombo exclusivamente porque está barato. Gostei de uma que estava na vitrine mas que não tinha no estoque. Minha mãe falou pra eu escolher outra, mas eu só tinha gostado daquela.
Pergunta: vale a pena ficar com outra para esquecer da que você gosta?

PS.: post pré-adolescente, eu sei, mas a reação dos meus pais quando eu falei pra vendedora "mas eu não vou ficar com outra pra esquecer da que eu gosto" foi tão "tão" que eu resolvi postar aqui.

29 abril 2008

Carta 2.

Tirei carta de motorista. Meu pai me dava aulas porque ele já foi instrutor, e parente dar aula é um negócio totalmente não-profissional, com direito a ataques de fúria da parte do pai e do filho. Ele reclamava de qualquer coisa, e quando eu fazia certo, não abria a boca. Hoje, depois de ter carta, ainda é assim, e provavelmente nunca vai mudar. Falando pra alguns amigos disso, todos disseram que isso acontece com eles, também. Eu achava que era só comigo (que eu dirigia mal e que por isso ele reclamava), então saber que todo pai reclama me deixou bem mais tranqüilo.
Mas aí vem... a minha mãe. A dos meus amigos é diferente. Elas dirigem mal, eles dirigem melhor. Minha mãe está até com a carta vencida, mas quando eu faço umas coisinhas de gente que ainda está aprendendo a dirigir, ela reclama mais que o meu pai. Por exemplo, quem, quando está começando a dirigir, consegue trocar a marcha e fazer uma curva ao mesmo tempo?! P*rra, precisa de uma coordenação boa, e eu estava vindo com ela do mercado (e foi muita bondade minha levá-la porque eu precisava estudar), fiz isso e ela ficou "aaai esse carro não agüenta muito tempo assim". Pelo menos ela tem algo em comum com as outras mães: é só chegar um pouco mais perto do carro da frente, mas nada que represente perigo, que ela já começa a gemer de medo.
Com tanta "co-pilotagem", achei que nunca fosse gostar de dirigir. Quando eu pegava o carro era mais para treinar, não porque eu estava gostando daquilo. Eu sentia isso e via o comercial do Polo falando "pelo prazer de dirigir". Eu me sentia um estranho.
Eu ainda não tinha pensado, entretanto, que se sempre tinha alguém para criticar, como seria dirigir sem ninguém do lado? Fui buscar minha mãe na escola e foi ótimo dirigir sozinho. Ótimo. Foi só ela entrar no carro pra eu começar a fazer c*gada, sabe-se lá o porquê disso. Pelo menos eu sabia que dirigia bem :-).
Até aí eu não tinha parado pra pensar também como seria dirigir com outra pessoa do lado que não fosse pai e mãe, e eis que fui buscar minha irmã no metrô um belo dia. (Aliás, noite de chuva.) Parei num lugar proibido parar e estacionar e fiquei esperando. Nada dela. Fui fazer um retorno pra parar no mesmo lugar e perdi a p*rra do retorno. Fui indo embora pela Radial Leste ZL adentro até encontrar outro, mas que dava numas quebradas.

Pronto, estava perdido com o carro.

Fui entrando em ruazinha, saindo em ruazinha, voltei uma, saí num lugar que dava pra Radial de novo. Liguei pra casa, falei que estava perdido e que iria demorar. Fui sentido centro sem lembrar de um retorno sequer até que apareceu um do nada. Eu estava meio veloz, entrei com tudo nele e eis que ele saía exatamente na rua que era para ter entrado alguns minutos antes. Cheguei no metrô com expressão de vitória, até buzinadinha dei pra minha irmã. Para melhorar, ela ficava elogiando como eu dirigia, desde "meu irmão tá crescidiiinhooo" até "ohh trocou a marcha bonitinhooo!!!"
Este episódio me deu uma confiança tremenda pra dirigir. Daí pra frente começou a ser prazeroso dirigir (rápido, principalmente). Meu pai passou a ter menos motivos para reclamar, minha mãe fala que eu estou dirigindo melhor. Talvez as críticas contundentes do meu pai tenham sido boas. Elas me fizeram ficar furioso e querer dirigir melhor que taxista com 30 anos de experiência. Eu achava, aliás, que não tinha como dirigir melhor, que você nascia com uma capacidade espacial x e que ela definiria sua direção. Não podia estar mais errado. Experiência vale para tudo, é possível aprender e se superar em tudo. Eu sei que um dia eu vou conseguir trocar marcha e fazer curva ao mesmo tempo, e eu sei que, quando minha mãe renovar a carta dela, vai ser a minha vez de reclamar muuuito de como ela dirige. Logo, mais uma vez, estou movido pela vingança. :-).

20 abril 2008

Estou há quase duas horas escrevendo, apagando, refazendo título, tentando criar uma introdução, e nada rola. Tudo isso pra falar que, ao invés de explodir, aconteceu só uma biriba, e que eu crio metas cujas motivações não são tão óbvias (como dirigir melhor não pra não ter problemas no trânsito, mas pro meu pai parar de inventar um motivo atrás do outro pra me encher o saco, ou querer aprender estatística não pra saber estatística, mas pra passar por cima de um imbecil do meu grupo que se acha o f*dão porque manja mais e fica delegando tarefas e esnobando). Em outras palavras, estou movido pela vingança.

31 março 2008

Carta.

31 de março tem tudo para ser o segundo pior dia do meu ano (nada bate o dia descrito abaixo). 2008, aliás, está com tantas frustrações que eu criei o marcador "fossa" para acompanhar e catalogar devidamente o ritmo de acontecimentos desastrosos da minha existência. Nem o que acontece de bom é tão bom assim, porque está sempre acompanhado da sensação de que poderia ser melhor se...
Hoje de manhã eu passei por uma situação muito humilhante para mim, mas que infelizmente eu não posso registrar aqui para o mundo. Em um momento eu fiquei tão nervoso com isso que deve ter chegado a bater o dia em que eu fiquei mais nervoso de todos os tempos. A raiva foi passando depois que eu compartilhei o que aconteceu com algumas pessoas, mas voltou com muuito mais força quando eu recebi uma ligação no mínimo cínica no celular. Dessa história, só tem uma coisa que eu posso falar aqui: eu gosto da sensação de merecimento, do mérito de ter conseguido algo com o meu esforço. Não gosto de alternativas obscuras. Não gosto de depender dos outros.
Sou contra quem destrata outras pessoas por estar num dia ruim, mas hoje estou vivenciando tal situação. Não perdoei nem a moça que carregou meu peão card. A mulher fica presa num cubículo quente por sei lá quantas horas carregandocartãocarregandocartãocarregandocartão e não ouviu nem um "obrigado", nem um "oi", nem "põe quarenta". Os guardinhas da USP também receberam uma cara fechada depois de dar bom dia (sem sentimento, automático, mas não por isso inútil) depois de conferirem minha carteirinha. As pessoas me olhavam no ônibus como se eu estivesse pronto para matar alguém (ou minha mania de perseguição está de volta).
Esse dia de m*rda ainda não acabou. Muito provavelmente vai acabar em mais m*rda quando eu voltar para casa "sangue nos zóio" e encontrar quem me ligou. O próximo post promete ser explosivo.

23 março 2008

Mais de um mês sem nossa dogona.

Aqui em casa tem-se o hábito de ir ao médico em última circunstância. Depois de passar mal, de se automedicar, é que se começa a pensar nisso. Se o doente parar de comer, aí sim é que vai para o médico. Isso aconteceu com uma das nossas cachorras.
Fazia muito tempo que eu achava que ela estava mal. Ela não era de pedir carinho, e de muitos tempos para cá ela se encostava na gente o tempo todo querendo carinho na barriga. Coisa de anos. Ela vomitava com uma certa freqüência desde sempre, então nós considerávamos normal. Ela precisou começar a ficar quieta e parar de comer para alguém fazer alguma coisa. O(a) primeiro(a) veterinário(a) era um(a) corno(a) que achou que a Sheerra estava com o útero zoado e já marcou uma cirurgia para capá-la. O ultrassom era opcional fazer. Fizemos, e constatou-se que os rins dela que estavam péssimos.
Fomos para outro veterinário que deu soro pra ela para ver no que dava dentro de uma semana. Até aí nossa doga já estava quilos mais magra e não parava de tremer. Vivia com cara de que estava com dor mas que agüentava. No final das contas, esse tratamento não adiantou nada e o vet falou que ela precisava de um transplante. Para sobreviver por mais tempo, precisava de hemodiálise por trezentos reais a sessão. Como o pessimismo da minha mãe confirmava, era se preparar para a despedida.
Um dia ela já não andava mais. Tive de carregá-la para dentro de casa e, quando eu a deixei em cima do paninho dela, ela caiu para o lado. Meu pai decidiu que não tinha como vê-la morrer daquele jeito e a levou para a hemodiálise. Para esse mesmo dia estava marcado um amigo secreto. Minha irmã não foi, mas eu fui, totalmente triste.
Uma hora eu liguei pra minha irmã pra saber como estava indo e ela me disse que eles tinham um tratamento pra sarar cão com rim zuado. Era caro, mas pela vida de um parente você não tem como hesitar. Ela foi internada naquele dia.
Fui lá vê-la com meu pai e mãe no dia seguinte ou dois dias depois. Ela estava dopada, com uma agulha na pata... eu saí de lá mal pra caramba.
Os dias foram passando e todo dia eu e a Vick marcávamos de ir lá vê-la, mas a gente nunca foi. No dia em que ela voltaria eu estava trabalhando. Liguei pra Vick para saber como ela estava e ela disse que eles ainda não tinham chegado. Terminei um horário e estava no intervalo antes do horário da noite e liguei pra ela pra saber da Sheerra. Ela tinha morrido naquela tarde, umas 3 da tarde. O coração dela parou, tentaram reanimá-la, conseguiram, o coração dela parou de novo, e não voltou mais. Ela morreu sem ninguém da família por perto...
Eu ainda tinha de trabalhar, então engoli o choro e fui. O pessoal me deu um apoio e eu liguei para a Bruna para falar o que tinha acontecido, pra compartilhar a dor, uma atitude totalmente egoísta. Eu já estava destruído por dentro e ainda deu m*rda no Etapa, o que deixou meu dia o pior que eu já vivi.
Voltei pra casa sem querer voltar, porque eu estava imaginando o clima de velório que estaria lá. Eis que eu saio do ônibus, pronto pra soltar tudo, e não saiu nada. Atravessei a rua mas, quando eu olhei pros lados pra atravessar e vi a lua, cheia, não sei por quê, mas isso me detonou, e no meio da rua, lá pras 11 da noite, fui chorando que nem criança pra casa. Cheguei em casa chorando, meu pai me consolando, eu chorando, e foi assim por um bom tempo.
Eu já tinha tentado imaginar como seria para mim a morte das nossas cachorras, e eu nunca achei que seria tão impactante. A Sheerra faz muita, muita falta. Quando o carteiro passava era ela que agitava os latidos, ela que tinha aquele bochechão de boxer que a gente apertava o tempo todo e ela não gostava, era ela a amiga da Tchutchuca, a cachorra que ficou.
O velório dela foi pior. Eu fui para vê-la uma última vez antes que ela fosse queimada até virar pó. O pessoal do lugar onde ela ficou sequer tirou o cabo enorme de grosso que estava no pescoço dela para fazer hemodiálise. Ela estava muito fria e um pouco molhada porque deram banho nela antes de velá-la. Ela ainda estava com o olho um pouco aberto. Meu pai falou para não olhar para eles porque poderiam ainda conservar o sofrimento dela, mas eu achei que eles pareciam mais de sono. Eu não queria sair de perto dela, queria ficar lá todo o tempo possível, mas a minha irmã estava sofrendo demais e, além disso, o que estava sendo velado não era mais a nossa cachorra... ela já tinha ido embora desde que o coração dela parou. Ela existe agora só na nossa lembrança, o corpo dela não é ela.
Ela está agora em forma de pó na nossa sala, em uma caixa. Ter o pouco dela que não virou ar ali me confortou um pouco, estranhamente. Querem jogá-la numa pracinha que ela gostava de ir, mas eu sou contra, porque outros cachorros vão fazer suas necessidades em cima dela. Por mim ela fica aqui com a gente para sempre.
A nossa outra cachorra está um nada agora. Dorme 23 horas e meia por dia, e a outra meia hora fica deitada. Já falei que se comprarem outro cachorro eu saio de casa. A dog da minha prima veio aqui antes de ontem e a nossa não gostou, o que sugere que trazer outro cachorro não é uma alternativa.
No dia seguinte à morte eu deletei todas as fotos que eu tinha dela do meu celular achando que esquecê-la era o melhor jeito de superar isso. Não funcionou. Todo dia eu penso na Sheerra e não me conformo com o tanto que ela sofreu. Não serve pra nada pensar nisso, mas é irracional, é revoltante. Todo dia eu sinto saudades dela, e parece que isso nunca vai passar. Já faz mais de um mês que ela se foi, e o que eu sinto todo dia lembrando dela não muda. O pior disso é que eu sei que há outra morte por vir, e mais sofrimento junto. A cachorra que ficou está comendo pouco e começou a vomitar com certa freqüência, mas enquanto ela não pára de comer de uma vez por todas meus pais fingem que está tudo bem. Minha vida está insana esse semestre e eu não posso cuidar disso por mim mesmo, ou com ajuda da minha irmã. Só um exame de sangue poderia falar o que está acontecendo com a Tchutchuca, se é rim zuado ou depressão.
Morrer cedo é característico de boxer, raça da Sheerra. Ela morreu com oito anos e meio. Ela tinha alguns tumores e os rins dela, segundo os últimos veterinários, parece que nunca funcionaram muito bem. Ela teve filhotes, e já avisamos para quem nós conhecemos que ficou com algum filhote para fazer um exame de sangue neles para ver o nível de creatina (ou creatinina, sei lá) deles. Em compensação, boxer deve ser a raça com os cães mais dóceis e fofos e legais. A Sheerra era demais. Mesmo assim, eu nunca gostei da idéia de ter animal de estimação justamente por ser mais provável que eles morram antes de nós, e agora eu desaprovo totalmente a idéia de ter um. Os momentos bons não superam isso que fica depois da morte.

15 janeiro 2008

Esperando a chuva passar...

...enquanto eu estava na dentista li esse artigo do J. R. Duran na Trip e achei muito da hora.

12 janeiro 2008

Diversões estranhas.

Eu disse há alguns posts atrás que me falaram que eu gosto de diversões estranhas. Este começo de ano está de prova que eu estou no limite entre o que pode ser considerado se divertir com coisas normais.
A primeira diversão do ano foi praia. Todo mundo gosta de praia. Eu gosto um pouco, e na verdade gostei mesmo só do último dia, porque o mar estava excelente e porque eu estava indo embora. A segunda diversão do ano deve ter sido andar. Eu gosto muito de andar. É até útil porque eu vou fazendo um mapa da cidade na cabeça e acabo me achando nos lugares mais remotos.
Nessa última semana as diversões ficaram estranhas. Segunda-feira eu fui doar sangue. Isso acabou virando diversão porque a minha intenção era andar até o metrô Jabaquara (saindo do metrô Ana Rosa = 7 estações a pé) e fui acompanhando o pessoal que já ia doar até o metrô Santa Cruz, mas acabei descendo a rua que dava no hemocentro (que parecia um restaurante vendo de longe) e doei com eles, com direito a foto doando e tudo. Passei meio mal depois de doar, e antes também: minha pressão estava em 14 por 9. Tomei um monte de suquinho que eles dão, comi um monte de bolinho e fiquei bem.
No dia seguinte fui a um rodízio de pizza para comemorar o aniversário da Bruna. A diversão não era apenas comer, mas também ir até lá. Era a menos de 200 metros do lugar no qual eu doei sangue, mas eu fui apenas de ônibus (e não de metrô, mesmo o negócio sendo do lado do metrô) pela felicidade de pagar menos para ir e pela felicidade de ir vendo o caminho!!! Caramba, eu não sou normal.
Diversão de ontem: medir minha pressão. Depois daqueles 14 por 9 eu tinha um motivo bem concreto para medi-la, e isso era o que eu queria há muito tempo. Depois de ter virado hipocondríaco por causa do recorde de 16 por 10 que eu atingi esperando o resultado do vestibular, eu fiquei encanado com isso, e louco para saber minha pressão arterial o tempo todo.
Hoje a diversão foi o Wet'nWild. Essa foi bem normal, apesar de eu não ter gostado taaanto assim de lá porque as filas não tem cobertura (então hoje, por exemplo, que fez 37 graus, das filas saía cheiro de carne humana assada) e por causa também do chão. Sim, o chão fica pegando fogo quando faz 37 graus, e em pouquíssimas vias tinha um jatinho d'água pra refrescar.
A diversão de amanhã seria um programa alternativo no CCSP vendo filmes alternativos, mas esta foi substituída por um slide show de uma viagem na casa da vó.
Bem, se eu vejo graça em coisas que passam desapercebidas por 99% da população, como ficar olhando pela janela do carro/ônibus/metrô, problema meu (orra). O que importa é se divertir, seja uma diversão pobre ou não, estranha ou não, tosca ou não.

11 janeiro 2008

Começo de ano.

Quando eu tinha uns 4 anos fui para a praia ver a queima de fogos da passagem de ano. Ficamos embaixo de uma barraca, mas em volta dessa barraca tinha uma bateria de fogos. Nem precisa falar que toda aquela explosão causou um trauma. Porém, depois desse dia eu passei a ter medo não de fogos, mas de ano novo!
Toda fucking passagem de ano eu fico meio nervoso, e quando passa tudo eu fico aliviado, não necessariamente feliz ou tranqüilo. Porém, de 2007 para 2008 foi diferente. Faltando vinte minutos para a meia-noite eu estava no mesmo estado de quem termina de ler um livro e vai dormir.
Dia 1º eu já estava a caminho de casa, pois eu trabalharia dia 2. Talvez por isso eu não tenha ficado empolgado com a mudança de ano: nada tinha mudado. Desde que eu nasci essa data marca alguma diferença, nem que seja mudança de série na escola. Agora, entretanto, eu estava indo trabalhar, estava indo para o mesmo trabalho do ano anterior. Tudo estava igual.
Enquanto eu pensava isso chegou a Veja com uma coluna exatamente sobre isso. Um pedaço dela:
"E lá fomos nós, outra vez. Assistimos à queima dos fogos, tomamos champanhe, trocamos beijos e abraços, dissemos feliz ano novo. (...) depois de uma noite maldormida (...) se perceberia que estava tudo igual, cada coisa em seu devido lugar, inclusive as aflições que azucrinam a cabeça, as doenças que castigam o corpo, as obrigações, os trabalhos, os motivos de chateação e os de alegria."
Depois dessa virada (de cabeça pra baixo) não sei mais se vou ficar ansioso na passagem, porque a noite de reveillon é uma noite qualquer, com a diferença de que seus avós ficam acordados até mais tarde. O que diferencia um ano do outro são as promessas que fazemos, isto é, a longo prazo tem algo de diferente. Entretanto, depois da festa, quando nós voltamos para casa e acordamos no dia seguinte, é igual a um feriado no meio da semana.
Agora eu nem sei se faço promessas para 2008, já que tudo vai estar bem parecido com o que já era. Por enquanto o que eu fiz foi providenciar uma agenda para organizar o ano e deixá-lo no esquema de todos os outros anos. Tudo muito igual.