Um garoto de três anos morreu quando a polícia metralhou o carro no qual ele estava, no Rio. Sua mãe, em entrevista comovente, disse que falou para ele abaixar, e ele respondeu: "mas por quê, mamãe?"
Meu primeiro pensamento foi: mas então não mereceu morrer??
Foi a primeiríssima coisa que veio à minha mente, como a continuidade de um pensamento lógico ao imaginar a cena: tiros pra todo lado; se, ao invés de abaixar, quis saber por quê, tem mais é que morrer. Quase uma seleção natural. Isso aconteceu de novo e pior, pois extrapolou o pensamento e eu estava na companhia de duas mães que conversavam sobre isso. Quando eu soltei o "ahh mas então não mereceu morrer? hahaha" obtive como resposta um silêncio sepulcral, ironicamente.
Fiquei com peso na consciência por ter sido natural nas duas vezes, como um senso comum. Pareceu que o meu mais verdadeiro eu é uma pessoa sádica e insensível, até que começasse a parecer para mim que, na verdade, todas as pessoas o são, e que esses pensamentozinhos condenáveis estão por toda parte.
Se isso fosse só comigo, não seria necessário pensar antes de falar. Aliás, o que é pensar antes de falar além de... reprimir algo que o resto do mundo acharia condenável para viver em sociedade?? Se a entrevistadora, após a descrição da mãe, perguntasse "mas você não acha então que foi melhor que ele morresse, afinal ele não vai passar os genes do reflexo lento pra frente?", viveríamos num mundo sem hipocrisia, mas triste. Falar na cara é honesto, mas um eufemismo certamente é melhor por passar a mesma mensagem e ainda ser agradável.
Pensamos coisas condenáveis o tempo todo que surgem de qualquer conversa. Quantas vezes, ao sermos atingidos por tais "idéias", não procuramos com os olhos alguém que nos apóie e, ao encontrar o mesmo olhar no outro, ambas as partes confirmam com um sorriso malicioso... Isto foi o que ocorreu comigo, com a diferença de que na primeira vez não encontrei o tal olhar e na segunda eu falei, no impulso.
Com amigos "apreciadores" de humor negro, passaria batido. Um dos que eu conheço chora de rir ("porque é muita mancada") quando eu conto de uma mãe que recebeu um scrap de um anônimo tirando uma por seu filho de 5 anos ter morrido de câncer. Outro conta e cria piadas sobre a Isabela. Enfim, eu não sou a pior pessoa do mundo (ou é disso que eu estou tentando me convencer). Alguns falam tudo que vem à mente, outros preferem manter a civilidade. Parece para mim de novo que todo mundo é podre.
Pensamos coisas condenáveis o tempo todo que surgem de qualquer conversa. Quantas vezes, ao sermos atingidos por tais "idéias", não procuramos com os olhos alguém que nos apóie e, ao encontrar o mesmo olhar no outro, ambas as partes confirmam com um sorriso malicioso... Isto foi o que ocorreu comigo, com a diferença de que na primeira vez não encontrei o tal olhar e na segunda eu falei, no impulso.
Com amigos "apreciadores" de humor negro, passaria batido. Um dos que eu conheço chora de rir ("porque é muita mancada") quando eu conto de uma mãe que recebeu um scrap de um anônimo tirando uma por seu filho de 5 anos ter morrido de câncer. Outro conta e cria piadas sobre a Isabela. Enfim, eu não sou a pior pessoa do mundo (ou é disso que eu estou tentando me convencer). Alguns falam tudo que vem à mente, outros preferem manter a civilidade. Parece para mim de novo que todo mundo é podre.