05 setembro 2009

Um sujeito bem estranho, segurando um monte de sacolas, sentou-se ao meu lado. Estava com ar de quem tem mil coisas pra fazer. Tirou de uma das sacolas um pote com nozes e começou a comê-las, com ar impaciente, mas delicado. De vez em quando dava uns suspiros. Dali a pouco ajeitou tudo, levantou e, no banco que ocupava, ficou um papel de cor amarelo-post-it. Bati o olho nele e vi escrito "Poesia solta - Amigo inusitado". Saquei que ele tinha deixado o papel ali de propósito, afinal a poesia era solta, e o amigo, inusitado.
Aquilo para mim era o máximo: eu já tinha ouvido falar em bookcrossing, mas não achava que aquilo existia de fato, muito menos que o "crossing" já não se limitava a "book".
Fiquei esperando que ele fosse embora para começar a ler. Eis que um cara no banco da frente olhou para trás. Viu o papel amarelo-post-it contrastando com o banco cinzento. Virou-se para frente lentamente, como se estivesse pensando. Olhou para o papel de novo e acabou com tudo:
- Ei, você. Esqueceu esse papel?
O sujeito hesitou, acabou dizendo que sim. Guardou a poesia solta numa das sacolas, resmungou alguma coisa e foi embora. Guardei a curiosidade com o amigo inusitado, resmunguei pra quê tanta educação e fui embora.