06 maio 2008

"O horror que temos de nós mesmos"

Finalmente alguém falou disso, e ainda por cima considerando um outro fato muito interessante. "Achadinho" no jornal Destak (aquele que você pega no metrô).

"Muita gente, em especial a imprensa, tem criticado a maneira como parte da população reage ao espetáculo midiático que virou o caso Isabella Nardoni. Haveria histeria e exagero.
De minha parte, creio que a reação é natural. O crime cometido é medonho.
Há, sim, exagero na cobrança de rapidez no chamado 'processo legal'. As pessoas querem os acusados na cadeia, mas as investigações ainda estão em andamento. Mesmo assim, vejo também como compreensível a exigência de que tudo seja mais rápido. Afinal, já estamos acostumados a pensar na nossa Justiça como lenta.
O que mais me impressiona, porém, são as pessoas que resolveram fazer figuração nesse caso, como se tudo fosse mesmo um espetáculo. Falo das pessoas que vão para a porta da delegacia ou do prédio onde estão os acusados.
O que faz alguém, numa cidade complicada como São Paulo, sair de sua casa e ir gritar 'assassino' e jogar pedras contra os acusados e seus parentes? A resposta é aterradora. Essas pessoas, no fundo, estão exorcizando os seus próprios fantasmas. A tese não é minha. É do psicanalista Contardo Calligaris, uma das vozes mais lúcidas do país. Com seu ódio, essas pessoas querem dizer 'nós não somos monstros, nós não matamos crianças'. Só que, como lembra Calligaris, a vontade de afirmar a diferença de modo violento indica que o indivíduo, na verdade, sente-se semelhante àquele que hostiliza. Aquelas pessoas precisam dizer ao mundo que elas são diferentes porque, no fundo, são bem capazes de espancar os seus filhos.
Duvida disso? Veja o crescimento dos índices de agressão a crianças (...). Veja que o principal agressor é a mãe. Noutro dia, informamos que, em sete anos, mais de 300 crianças foram mortas dentro de suas casas na cidade de São Paulo. E isso, como publicamos, é só a ponta do iceberg."

Pena que este artigo estava espremido em um canto do jornal e pareceu cortado no meio. Se falasse mais sobre essa teoria de reprimir o que se é de verdade ficaria muuuito melhor...

4 comentários:

Bruna ℓ. disse...

Há poucos dias relatei minha indignação frente a esse circo que fizeram com o caso da Isabella. Isso não é o final de uma de novela e não é uma situação hipotética, que abre espaço pras pessoas responderem a enquetes. Tem gente que ainda não caiu na real e não percebeu que aquela criança realmente morreu - She is gone. C'est fini.
O pior ainda é transformar uma infeliz realidade social em bandeira de Ibope. Daqui uns dias aparece algum programa "Especial Isabella" e esse caso ainda vai tomar uns 30 minutos da Retrospectiva 2008. Não estou fazendo pouco caso, mas sou simpatizante da máxima: "Se não for ajudar não atrapalhe". E infelizmente eu não posso ajudar, aliás, ninguém mais pode.
O que falta pra todo mundo é um pouco de verdade; sair da frente da TV e do computador e ver o que acontece no mundo; parar de viver essa vida de mentira - em todos os aspectos.

Grazi disse...

É o que Freud chamou de projeção... A gente identifica no outro o que também temos e, se nos irrita demais, é porque está imenso em nós.
E as estatísticas são realmente lastimáveis!

Anônimo disse...

nao aguento mais td isso arthur.
certamente se o advogado fosse sanfran eles nao estariam na cadeia... mas
enfim...
que viva a justica inalcancavel!

Anônimo disse...

Pouts meu.... Tem dias que eu fico irada com isso. Hoje fui numa pizzaria e na hora que começou a entrevista com amãe da menina a dona da pizzaria colocou a televisão em um volume absurdo. Quase fiquei surda e tive uma overdose do caso Isabella nos últimos dias.


Só para constar, li esse post há alguns dias e achei muito bom. Mas não comentei por preguiça/ falta de algo decente para comentar etc...

enfim... um abraço Arthur, até mais!