19 agosto 2011

Vivendo em Santiago.

A imagem que se tem de Santiago quando se mora em Sao Paulo é a de que se trata de uma cidade pequena. Porém, só de ver o mapa do metrô, que sequer cobre toda a cidade, se ve que é uma cidade muito extensa. Isso se deve principalmente ao custo de construir prédios aqui, que é muito caro já que são necessários sistemas que compensem tremores e terremotos. Por isso, ao contrário do que se vê do topo do Edifício Itália (um monte de prédio), quando se sobe até o topo do Cerro San Cristóbal, o ponto mais alto dentro da cidade, se vê uma cidade muito extensa e com poucos prédios, localizada numa espécie de vale, e cercada por todos os lados por cordilheiras. Inclusive, para ir para a praia há um túnel de alguns quilômetros que “fura” uma das montanhas da cordilheira. Por sinal, os Andes no inverno são uma vista incrível que se pode ter de qualquer lugar da cidade. Eles estão cheios de neve, e quando neva mais fica realmente bonito. Todos os dias eu tiro fotos deles.
Até agora, um mês e meio depois, eu vivi na bolha de Santiago que envolve o centro e dois ou três bairros mais próximos do centro. Tudo o que eu digo sobre a cidade é baseado nisso.
Santiago é uma cidade bonita e organizada. As calçadas são largas, com espaço para uma faixa para pedestres, outra para ciclistas e, entre elas, uma com árvores, isso em muitíssimas ruas. Agora as árvores estaão todas com aquelas folhas marrons, já que é inverno, o que dá um aspecto europeu à cidade.
Por sinal, o inverno aqui nao é tão forte quanto o europeu, mas se sofre muito mais. Eu já peguei dias com -2 graus, e dizem que no verao chega a 35. Somando-se o fato de que aqui a energia é cara, temos uma cidade com temperaturas extremas que nao está preparada para qualquer um dos extremos. A exceção óbvia está nos bairros mais ricos, que é onde estão as casas com calefacão. Mesmo assim, um gerente do trampo chegou reclamando esses dias falando que a conta de gás da casa dele veio mil dólares depois de colocar calefação.
Isso cria todo tipo de inconveniente que se pode imaginar. Eu durmo com 4 cobertores e vestindo uma blusa. Com tanto frio, trocar de roupa de manhã para ir trabalhar é o momento que estraga o dia todo. Já tentei trocar de roupa debaixo dos cobertores, dormir com a roupa que vou por no dia seguinte, trocar de roupa em cima da estufa (a estufa é um negócio que gera calor ou por energia elétrica ou por um botijao de gás), mas depois de meia hora e só conseguir colocar a calça, até a camisa 200% poliéster amassar, e quase queimar a roupa, respectivamente, vi que o jeito era encarar o frio.
Outro problema é para lavar roupa. Com tanto frio e a energia sendo cara, se lava a roupa, mas ela não seca. É preciso estendê-las perto de uma estufa e deixá-las ali por dias. Some-se a isso o fato de a máquina de lavar da casa na qual estou estar quebrada e temos que se leva duas semanas para lavar roupa. Semana retrasada fui para festas na sexta e no sábado à noite e estava morto demais para lembrar de dar minhas roupas para a mãe da casa lavar na casa da filha dela. Agora, duas semanas depois, estou com duas camisetas limpas, e só.
O caminho seria comprar mais roupas. Aqui tem uma comuna, a Patronato, que é o Bom Retiro de Santiago. Fui lá mas não comprei nada, porque eu nao sei o que é bom e o que nao é e a mina que foi comigo nao estava tão disposta a ajudar com algo além de “oh, tá barato”. Fui para o shopping. Mesmo assim, comprando roupa em outro país se perde todas as referências de marca que se tem, porque as marcas locais que são as melhores são outras. No fim das contas, ontem fui trabalhar com uma camisa emprestada de um amigo. Camisa, por sinal, amassada, já que não tem tábua de passar na minha casa, nem f*dendo eu vou gastar dinheiro com uma e, em quase dois meses, eu fui o único a tentar passar roupa porque energia aqui é cara e com o frio que faz se usa blusa por cima da camisa e ninguém vê os amassados.
Por fim, falando da parte boa, aqui há uma comuna, a Bellavista, que é a Vila Madalena e a Vila Olímpia juntas (não em tamanho, mas em variedade). Há muitas baladas de música eletrônica, igual a São Paulo, mas também há as de cumbia e de salsa. Cumbia é música brega com batida latina e que faz sucesso entre os jovens. Por sinal, aqui toca axé e funk de dez anos atrás, como a Dança do Vampiro e Tapinha Nao Dói, mas fale para um chileno que uma é axé e a outra funk que eles se surpreendem ao saber que há diferença entre os dois tipos.
Nessa mesma comuna há muitos bares, dos mais flaites (como se chama aqui um mano, ou alguma coisa vulgar) aos que chegam a cobrar mais de 8 reais (mais de 2 mil pesos chilenos) por uma garrafa de cerveja Cristal ou Escudo (as que bombam aqui). Pode-se andar pelas ruas da Bellavista à noite sem medo.
Concluindo, Santiago é uma cidade bonita, com jeitão europeu, grande, organizada. Mas como o maior choque cultural que tive foi no supermercado (assunto de outro post), acho que ela padece do mesmo mal de todas as cidades muito cosmopolitas: se tornam iguais umas às outras. Os mesmos bairros, “o plano geral da coisa”. Santiago é Sao Paulo em espanhol e com abacate. Que, por sinal, é assunto de outro post.

2 comentários:

Licah... disse...

E que venham os outros posts!!

Patricia disse...

Cade o post falando do abacate? =D


Ri sozinha lendo esse post, quero saber mais de Santiago.