07 junho 2009

Capítulo XXIX: o Imperador.

Fui comprar uma blusa. A que eu queria não tinha no meu tamanho. Enquanto eu esperava um funcionário procurar a G no estoque, imaginei uma situação toda. Como ele achou, esqueci tudo. Cheguei no caixa. Ouvi "Vamos fazer um cartão da loja, senhor?", e isso me subiu o sangue.
Há um tempo resolvi fazer esse cartão para ter descontos na compra. Para fazê-lo, era preciso ter pelo menos o RG, e nem com isso eu estava. Doida que estava a vendedora pensando em sua comissão, aceitou a carteirinha da faculdade para começar o processo. Ela disse para mim e depois ficou repetindo para si mesma, "Eles precisam abrir uma exceção...". Me passaram para mãos mais burocráticas. Depois de um olé de mais de uma hora, recebi a notícia de que meu crédito não tinha sido aprovado, e que eu poderia tentar novamente só depois de um mês. Saí da loja dando juras de desamor a ela, juras de nunca mais voltar. E lá estava eu na boca do caixa. Voltei.
"Não, vocês já me recusaram crédito uma vez", respondi, com esperanças de ter vencido a ambição da moça. Ela perguntou "Mas há quanto tempo isso aconteceu?", e fez uma cara analítica e confiante. Analítica porque a minha resposta era o x de uma equação que ela já tinha pronta na mente, e confiante porque ela sabia resolvê-la. Ao invés de dizer o x, já respondi a equação toda: "olha, foi há mais de um mês, mas eu não quero saber desse cartão, vocês terem recusado crédito foi uma humilhação pra mim". "Moço..." Paguei, disse obrigado para a caixa que não tinha a ver com a situação, fui embora nervoso. Por causa disso, a tal "situação toda" imaginada voltou, e maior.
O funcionário chegou e disse "Não tem G". Eu disse "Quero falar com o seu gerente". Aí já estava eu falando para o gerente "Como vocês podem só pôr blusa M na loja? Vocês querem perder essa compra? E vocês devem ter um lucro enorme com essa blusa, 80 reais?, deve ser uns 20 para fabricá-la, é época de frio, essa marca só é distribuída por vocês, senão eu já estava fora daqui, só o monopólio pra fazer uma loja manter um atendimento desses". Ele descaradamente perguntou "E o que você quer que eu faça?", e eu "Eu tenho cara de consultoria? Se você quer que eu te ajude me contrata!", e depois que eu falei onde estudava e meu curso, ele me contratou. Saí ligando para pessoas radiante, "Arranjei estágio do jeito mais louco possível!", e de repente caí na real. Eu estava me sentindo feliz de verdade, como se tudo isso tivesse acontecido, sendo que eu estava era dentro dum busão, segurando uma sacola com uma blusa G dentro, tão ali quanto cada pessoa ali.
Isso vive acontecendo comigo, e não sei o que isso significa. Eu vejo algo acontecendo e imagino n situações decorrendo daquilo, paranoicamente. Nessas eu já me imaginei, por exemplo, sendo morto a tiros, queimado, esmagado, degolado; matando várias pessoas de diversos modos, desde soltando a mão dela na beira de um precipício, até metendo um carro que eu dirigia num obstáculo qualquer para o passageiro voar; sendo assaltado, e reagindo de diversas maneiras, às vezes morrendo, às vezes sendo ferido e levado pro hospital, às vezes me dando bem; tendo coragem de falar o que eu penso e obtendo a resposta que vai me garantir felicidade pela vida inteira (ilusão dentro de ilusão); morando no meu AP dos sonhos; sendo bem-sucedido no trabalho; et cetera. São coisas terríveis e maravilhosas.
Não sei bem o que concluir desses "momentos". Porém, encontrei uma explicação simples do porquê de isso acontecer: "Não, a imaginação de Ariosto não é mais fértil que a das crianças e dos namorados, nem a visão do impossível precisa mais que de um recanto de ônibus." Eu sou normal, o problema é o tal recanto. Ou pelo menos não sou louco sozinho.

5 comentários:

Patricia disse...

Hahahahahahahah Arthur, sensacional, o melhor post seu q eu já li

Bruna ℓ. disse...

Eu só queria deixar registrado que eu entrei no seu blog e li seu post. Eu vou voltar assim que tiver um comentário tão bom quanto seu texto. ^^

Beijo!

jow disse...

absolutamente normal.
e comum.



mas o texto foi extraordinário.


passa no meu!

:)

Licah... disse...

Tutu...
não tem nada de errado com vc ok?!
Pq se tiver com vc, cmg tbm vai ter pq eu sou exatamente igual! Oo
Exato...nao eh louco sozinho...

E meo..como vc escreve!!! Curso errado!!! xP

Beejo!

jow disse...

eu não me canso de ler este post.